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7 de agosto de 2017Projeto criado há três meses reverte materiais recolhidos em sistema monetário válido no comércio local. Iniciativa vende lixo para empresas de reciclagem e poupa aterro sanitário municipal.
Para os dois mil habitantes de Santa Cruz da Esperança (SP), papelão e garrafas pet vazias não mais representam somente reciclagem, mas também uma forma rápida de geração de renda. Um projeto iniciado há três meses tem transformado todo o material recolhido por moradores em uma “Moeda verde” que permite a compra de mercadorias no comércio local.
O projeto foi idealizado por uma professora de ciências, em parceria com a prefeitura, e recolhia, no início, 250 kg de materiais para reciclagem por mês. Hoje, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, mais de uma tonelada é retirada das ruas e das casas da população.
“É um número muito expressivo, porque essa quantidade, além de estar impactando na diminuição de resíduos no aterro sanitário, está diminuindo os possíveis criadouros de Aedes Aegypti nos domicílios. Contribui tanto para o meio ambiente quanto para a questão dos criadouros de dengue”, disse a secretária da Saúde, Geovana Biaggi Moraes.
Tudo que é recolhido é vendido para recicladoras da região e o dinheiro arrecadado retorna para o comércio, para o pagamento do que foi comprado pela população com a “moeda verde”. Antes, esse material ia para o aterro sanitário da cidade.
Virou moda
Tudo começou há três meses, quando a professora de ciências Ana Cláudia Ferria pediu para os alunos da escola onde trabalha juntarem materiais recicláveis e levarem até uma praça. No dia agendado, foram recolhidas muitas garrafas pets, latinhas de alumínio e papelão.
Após a pesagem das sacolas, quem levou o lixo ganhou uma nota de plástico, muito parecida com a antiga nota de R$ 1, usada como “dinheiro de verdade” no comércio local. Cada dois quilos de papelão, por exemplo, valem duas moedas, o mesmo obtido com um quilo de latas de alumínio.
A partir desse dia, o projeto “Moeda verde” virou febre em Santa Cruz da Esperança. Os alunos passaram a incentivar uns aos outros, inclusive em casa.
“Eu, como professora de ciências, amei esse projeto, porque a gente pode trabalhar não só na sala de aula na teoria, mas também na prática todo esse processo de reciclagem que a gente tem que cuidar, para termos um mundo cada vez melhor”, disse.
A estudante Talita Eduarda Santos, de 11 anos, está no projeto desde o início e acredita que a “moeda verde” ajudou nas finanças de muitas famílias, além de deixar as ruas mais limpas e fazer com que a população fique mais atenta ao acúmulo de lixo nas ruas e terrenos.
“Esse projeto melhorou muito, porque agora você pode passar na nossa cidade que não vai ter mais sujeira. As pessoas estão vendo, estão juntando e indo trocar. Várias mães que não podem comprar bolacha para o filho agora já compraram. O filho mesmo pega, junta as garrafas e vai lá comprar”, afirmou a jovem, que disse convidar toda a família para participar do projeto também.
“Fui incentivando para todo mundo ajudar, para comprar alguma coisa que eu quero, ou para ajudar meus pais. Nossa família está incentivada com esse projeto”, concluiu.
Trocas
As trocas são feitas às segundas e quintas no centro de recolhimento, que fica em frente ao prédio da prefeitura, na Rua Angelina Reguini, número 459, na parte da tarde. Todo o material é pesado na hora e o pagamento à população é feito no local.
“Pra mim é [satisfatório], porque é uma coisa que deixa a cidade limpa e ajuda a incentivar as crianças da cidade a ter consciência da limpeza. Reduz bastante o lixo para o depósito. Pra gente é uma maravilha e a cidade se torna mais limpa”, explicou Maria Luzia Jardim, integrante do projeto.
O estudante Natan Evangelista Gomes, de 9 anos, já foi trocar diversas caixas de papelão que encontrou pelo caminho. Toda semana o garoto junta os materiais e leva ao centro. Com o dinheiro, já sabe o que fazer. “Compro doce, comida”, contou.
Para adquirir as mesmas mercadorias que Natan, o estudante José Carlos Diniz Neto, de 11 anos, também acumula recicláveis durante a semana e os troca pela “moeda verde”. “[Troco] para ajudar a cidade a ficar limpa, a limpar o planeta”, explicou.
Econômico
Mãe de Diniz Neto, a auxiliar de serviços gerais Taluana Correia disse que já comprou diversas mercadorias com a “Moeda verde” e que o projeto ajuda nas despesas do mês, além de deixar a casa mais limpa.
“Todo dia de manhã, para tomar o café, pega as moedinhas e compra um pão, leite. Ajuda bastante e fica tudo limpo no quintal, tudo perfeito”, afirmou.
A padaria de Carlos Eduardo da Silva é um dos estabelecimentos cadastrados no projeto. Ele explica que quase todas as mercadorias podem ser compradas com o sistema, exceto bebidas alcóolicas e cigarros. Para ele, após a “Moeda verde”, as vendas no comércio ficaram aquecidas.
“A venda para nós é boa. Dá um incentivo maior na renda do mês. Por exemplo, a população gasta R$ 10, R$ 15 da moeda. São R$ 10, R$ 15 a mais por dia pra gente e ainda deixa a cidade limpa”, disse.